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Gás natural seria pior que carvão

Considerado a alternativa mais “limpa” entre os combustíveis fósseis, o gás natural virou alvo de polêmica com estudos que indicam que ele pode ser na verdade pior para o ambiente do que o carvão. A raiz do problema estaria nas perdas durante o processo de extração. Embora libere a metade do dióxido de carbono (CO2) do carvão e 30% menos que o óleo diesel pela mesma quantidade de energia quando queimado, o metano é um gás-estufa cerca de 25 vezes mais poderoso que o CO2 na retenção de calor pela atmosfera. Assim, o gás que vaza dos poços facilmente anularia sua eficiência na luta contra o aquecimento global.


A discussão teve início no ano passado, quando Robert Howarth, professor de Ecologia e Biologia Ambiental da Universidade de Cornell, e sua equipe publicaram artigo na revista “Climate change” em que afirmavam que as perdas na extração, transporte e distribuição do gás natural eram muito maiores do que as anteriormente estimadas, chegando a 7,9% do total. Agora, novo estudo liderado pela cientista atmosférica Gabrielle Pétron, da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (Noaa) dos EUA e da Universidade do Colorado, diz que os vazamentos no processo de extração podem ser ainda maiores que os calculados por Howarth.


Pétron pesquisava a qualidade do ar nos arredores de Denver, no Colorado, quando, junto com a poluição urbana comum, detectou forte presença de metano e outros elementos do tipo nas amostras. Novas medições indicaram que o gás vinha de um campo de exploração próximo, batizado Denver-Julesburg, que estaria liberando 4% de sua produção diretamente na atmosfera. A quantidade é o dobro das perdas admitidas pelos produtores e acima das estimadas pela equipe de Cornell. Os resultados serão publicados em breve pelo “Journal of Geophysical Research”.


- Se quisermos que o gás natural seja a fonte de combustível fóssil mais limpa, as emissões de metano têm que ser reduzidas — disse Pétron à “Nature”, acrescentando não ver razões para que os números de outros poços e campos sejam muito diferentes. — Precisamos analisar seriamente as operações de gás natural em uma escala nacional.


Nos últimos anos, os EUA se tornaram um dos maiores produtores de gás natural do mundo graças a uma técnica polêmica apelidada “fracking”. Corruptela para hydraulic fracturing (fratura hidráulica), ela consiste na injeção de água e compostos químicos sob alta pressão no subsolo para “expulsar” o gás preso em pequenos bolsões nas rochas. Os críticos afirmam que o método pode provocar a contaminação de fontes subterrâneas de água e desestabilizar o solo, mas seu uso tem sido estimulado pelo governo americano, de olho em opções para tornar a matriz energética do país mais autossuficiente e limpa, argumento que começa a ruir com os novos estudos.


—É ótimo ter números vindos diretamente do campo — comemorou Howarth em declaração à “Nature”. — Não estou à procura de vingança, mas eles estão muito próximos e talvez até um pouco maiores que os nossos.


Como o estudo de Howarth, no entanto, o levantamento de Pétron também já é objeto de ressalvas por outros pesquisadores. Para Michael Levi, diretor do Programa de Segurança Energética e Mudanças Climáticas do Conselho de Relações Exteriores, muitas das suposições de Pétron são prematuras, assim como a crença de que o nível de perdas deve ser semelhante em todos os campos de produção: “Há dados observacionais fantásticos no artigo. Suspeito que haja muito mais a ser feito para jogar luz sobre os vazamentos de metano. Por enquanto, porém, não estou pronto para confiar em seus resultados”.



Fonte: O Globo - Cesar Baima
Data: 16/02/2012